terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Da janela.

Ela queria ver a mudança no mundo. E com os olhos cheios d'água sempre sonhava. Passava dias sentada de frente para a janela imaginando o tamanho do mundo lá fora. Procurava enxergar de longe aquilo que poderia ser quando crescesse. Ela achava tudo pouco colorido, os sons baixos demais, as luzes fracas e as pessoas sem graça. De tanto olhar um dia avistou além do vizinho, da rua e do quarteirão e lá na outra casa tinha um menino sentado. Ele era como todos os outros. Parou de prestar atenção e focou apenas nele. Ele ás vezes sorria, ás vezes chorava. E ela acompanhava de longe todas as sensações. Algumas que ela nem conhecia ou tinha ouvido falar. Com o tempo foi parando de imaginar. Se sentia diferente, mais esperta e não queria mais questionar ou dar adjetivos ao que via. E mesmo com a distância ele ensinava a ela todas as coisas que ela não sabia que existiam lá fora. Os olhos d'água secaram e os sonhos aumentaram até invadiram o vizinho. Transbordaram a sua rua. Porque ele era colorido, iluminado. Ele cantava músicas alto e sorria o tempo todo. Ela estava mudada. Não sabia o que estava acontecendo mas sua visão mudou. Num dia chuvoso o menino desapareceu. Ela ficou desesperada, estranha e inquieta. Nunca tinha se sentido assim. Sempre foi serena, insossa. A menina que nunca tinha saído da janela. Só queria estar mais perto dele ou vê-lo de novo. Aprendeu que não é o que as pessoas são, nem o que você vive com elas que fazem delas especiais e sim o que elas despertam. E nesse dia a menina saiu pela porta, pegou o guarda chuva e colocou as galochas. Se sentiu desafiada, pronta e segura. No dia em que ela entendeu o que é amor, saiu pela vida para deixar de ser criança.

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