segunda-feira, 26 de maio de 2014

De ser.

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Existe um tanto de loucura em mim. Uma parcela de culpa, um descuido. Um pedaço de sonho, um lampejo de medo, uma ausência de razão. Uma eletricidade descontrolada que percorre como fluido. Um momento de esperança, um tempo perdido no espaço dos dias. Uma falsa certeza, uma inconstância gostosa, um frio na barriga, um pé atras, uma vontade. Um pouco de outro e muito de mim em outro lugar. Sorriso cheio por motivo vazio. Instante de céu, frescor de nuvem andando na rua. Barulho de onda no fundo dos meus olhos fechados. Gelado da areia no meu coração machucado. Água de mar descendo dos cílios. Uma paz interna, um sussurro de anjo no ouvido, um incentivo da vida, uma intenção marota. Uma parte que voa, uma parte que fica.  Uma parte que enrola no edredom e se espreguiça. Uma expressão de concha que se fecha, uma intensa envergadura que se abre. A lembrança de futuro, uma presença desconhecida no peito. Tem também o que acelera, que espero que me pare. Uma força escondida, uma fraqueza aparente. Uma cor de água, transparente. Uma visão espelhada sobre o mundo, sobre mim. Algo natural e incomum, individual, misterioso e compartilhado. Espontaneidade do ser e de ser. Sem preocupações com possíveis mágoas. Querendo sentir, querendo viver e esquecendo todo o resto.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Reflexo.

Se você me trata com indiferença, eu mantenho minha bondade. Se você me trata com raiva, eu devolvo paciência. Se você age na defensiva, eu continuo sendo transparente. Porque não sou reflexo da sua postura, e cada um tem de mim exatamente o que eu sou.

domingo, 11 de maio de 2014

Vulgar.

Eu, que nunca fui vulgar, me perco na vulgaridade da vida. Com suas tantas oportunidades de recomeçar, de me reinventar. Parece mesmo que estou perdida. Não de lugares, nem pontos cardinais, eu estou aqui, e sei. Mas perdida de momentos, de chegadas e partidas,  de sonhos. Um modo vulgar de achar que todas as coisas conspiram a favor, sendo tudo na verdade, uma grande peça. Tão revivida que parece ensaiada. Todos - inclusive eu - com suas feridas latejando, deixando que tomem conta de tudo. Transformando o que tem fora em uma grande cicatriz, que deforma e esconde. 

Eu, que nunca fui vulgar, me deixei levar pela vulgaridade dos momentos. Tão pequenos, tão amplificados. Por mim e pelas cicatrizes que teimam em adulterar o meu peito. Tão, e tão menos importantes do que realmente são. Tão delicados e ingênuos, como eu. Esse modo vulgar de achar que os momentos são sinais. Como minúsculos espaços de realidade no meio de tanta cena e fantasia. Fantasia criada pela insistente mania de querer mais do que é de direito.

Eu que nunca fui vulgar, me envolvi por beijos sem paixão, abraços sem vontade . Um ciclo diário de amor e dor. Repetitivo e confortador. Confundindo interesse com opção, carinho com comodidade. Minha visão criou pegadinhas. Minha visão limitada do mundo, e principalmente das pessoas. Eu também tenho meus truques, que não resolvem nada que esteja entre o amor e a dor. Um grito no vazio, sem eco e luz. Truques criadores de cicatrizes, daquelas que distorcem a verdade, e a mim. E todos. Dança de máscaras, trocadas, rasgadas, abandonadas. Charadas interpessoais, palavras cruzadas, ilusionismo sentimental.

Eu, que nunca fui vulgar, nem sagaz, nem comum, nem perfeita. Me perco em mim. Sem saber qual esconderijo usar, ou o que dizer. E a frente de centenas de situações, não escolher nenhuma. Já tenho muita marca de saudade, muito arranhão, muito corte . Do destino, muita mágoa e alegria. Sob tanta lágrima e riso, sobre tanta cama, lençol e mar. Por entre as histórias e livros, por entre os pequenos infinitos que inventei e já nem são para sempre. Entre tanto pra sempre, e nunca mais. Entre tanto não e sim, e tudo que habita meu interior. Me perdi. Me perdi de mim e do mundo. Me perdi nas coisas que o mundo quer de mim, e nas coisas que quero do mundo.