segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Solidão, só.

Solidão arde por dentro igual azia, sem ter remédio. Enche os olhos de água para não ter ninguém para enxugar. É uma dor vazia que te deixa completamente perdido. Solidão é a maldade em forma de viver. É tão assustadora que em alguns momentos é até bela ao suportar. Olhando para os cantos esperando não doer. Olhando para o céu esperando não estar tão só. Olhando para fora e não vendo nada. Olhando para dentro e sentindo o vácuo. Solidão por solidão, que fique apenas a sua. A minha em você, apenas você só. Solidão é um choque no dente e o gosto de sangue na língua mordida. Rosto vermelho e pálpebras inchadas. Músicas repetidas e livros amassados e molhados. Solidão são pedaços que vão embora e não voltam. Silêncio mortal e impiedoso. Solidão fere igual palavra mal dita e corte aberto. Solidão dói igual amor não correspondido. Machuca como amizade traída. Solidão é voz que ecoa dentro de nós. Não consola e nem ensina nada. Solidão é igual saudade, só que só.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

pequeno




Leva e ganha,
faz.
Com tanta
imensidão.
Chore e grite,
no fim.



Fica e vem,
traz.
Não me deixa
em solidão.
Morre e vive,
em mim.




Está cedo.


Com o tempo a gente tenta,
fecha os olhos e alimenta.
Fica mudo e aguenta.
Enfraquece e senta.
Se esquece mas mantém.

Com a vida a gente cresce.
Luta, morre, envelhece.
Passa o ponto e não desce.
E a mente só padece,
mas ainda tem alguém.

Com amor a gente fica,
ganha alma e glorifica.
Se encontra e edifica.
Salva a morte em que aplica
Pra nossa sorte, ainda bem.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

3D


Dor. Doendo.
De fora para dentro.
Doendo. Dor.
Antes fosse de amor.
Dor. Doente. Dói.
Dor. Dói. Do ente.
Querido. Frágil.

Dor. Dói. Doente.
Coração que sente.
Dor. Dói. Peso.
Olhos fechados.
Doente.
Do ente
as mãos geladas.
Dor. Dói. Medo.
Ser passado.
Doendo.
Saúde.
Saudade.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

(De dentro)



Eu sinto falta de te chamar e você atender. (Ficava feliz) De você me procurar e eu sorrir por dentro. (Era surpresa) Dos sorrisos subentendidos em cada linha das mensagens. (Tão mútuo) De como cada coisa que eu penso se encaixava no que você dizia. (Mágico) E das cores que vinham na minha cabeça quando te olhava (Sonho) Do cheiro e da sensação gelada na mão quando esperava uma resposta. Quando ia te encontrar e sentia a ansiedade (Tão infantil) De olhar seu retrato e te sentir um pouco meu e de olhar pra fora e esperar te ver. Mas sendo você assim, como eu (tão do mundo), a maior falta é do que não tive. E da vontade que tinha de querer mais (De dentro) (De você) (De nós).

Da janela.

Ela queria ver a mudança no mundo. E com os olhos cheios d'água sempre sonhava. Passava dias sentada de frente para a janela imaginando o tamanho do mundo lá fora. Procurava enxergar de longe aquilo que poderia ser quando crescesse. Ela achava tudo pouco colorido, os sons baixos demais, as luzes fracas e as pessoas sem graça. De tanto olhar um dia avistou além do vizinho, da rua e do quarteirão e lá na outra casa tinha um menino sentado. Ele era como todos os outros. Parou de prestar atenção e focou apenas nele. Ele ás vezes sorria, ás vezes chorava. E ela acompanhava de longe todas as sensações. Algumas que ela nem conhecia ou tinha ouvido falar. Com o tempo foi parando de imaginar. Se sentia diferente, mais esperta e não queria mais questionar ou dar adjetivos ao que via. E mesmo com a distância ele ensinava a ela todas as coisas que ela não sabia que existiam lá fora. Os olhos d'água secaram e os sonhos aumentaram até invadiram o vizinho. Transbordaram a sua rua. Porque ele era colorido, iluminado. Ele cantava músicas alto e sorria o tempo todo. Ela estava mudada. Não sabia o que estava acontecendo mas sua visão mudou. Num dia chuvoso o menino desapareceu. Ela ficou desesperada, estranha e inquieta. Nunca tinha se sentido assim. Sempre foi serena, insossa. A menina que nunca tinha saído da janela. Só queria estar mais perto dele ou vê-lo de novo. Aprendeu que não é o que as pessoas são, nem o que você vive com elas que fazem delas especiais e sim o que elas despertam. E nesse dia a menina saiu pela porta, pegou o guarda chuva e colocou as galochas. Se sentiu desafiada, pronta e segura. No dia em que ela entendeu o que é amor, saiu pela vida para deixar de ser criança.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Ela era.

Ela era chão, ela era gota e naufragar.
Era sofrer, viver e pensar. 
Ela era bicho, criança e cidade. 
Era inteira, amor, saudade. 


Ela era olho no olho,
dente por dente.
Ela era choro e lágrima,
era estrela cadente.


Ela era raio que queima, 
ela era luz solar. 
Pra quem via era borrão de tinta, 
e onda do mar. 


(inacabado)

sábado, 1 de dezembro de 2012

Cama.

O dia começou diferente, com um ar calmo, tranquilo. Não acordei com os pensamentos de embrulhar o estômago. Nem borboletas e grilos na barriga, nem pulgas atras da orelha, nem nada. Hoje, diferente dos outros, o dia não começou com aquele tempero máximo do estresse. Enquanto escovava os dentes e conferia meu hálito de menta - que remetia o seu gosto de bala - você não veio. Nem mesmo veio guloso e sorridente quando deparei com seu pão doce preferido na padaria onde sempre tomo café. Ainda bem. No caminho do trabalho, com fones no ouvido e todas as nossas trilhas sonoras tocando em sequência, e meu silêncio interno mais mórbido, inacreditavelmente você não apareceu. Estava off. Trabalhei. Almocei. Preenchi papeladas infinitas, tomei café enquanto terminava relatórios chatos. Tudo entregue, no prazo e rápido. Estava leve e não entendia como. Chequei os emails e fui viver o fim de noite no ponto do ônibus. Nenhum sinal da sua existência em mim. Estava me sentindo tão mudada e sozinha, maravilhosamente bem. Mas isso não duraria muito tempo. Saltei, andei até meu apartamento, abri a porta e deixei a bolsa no chão, no canto ao lado da porta. E com as chaves ainda na fechadura você veio. Como um soco no abdome  forte e congelante. Nosso cômodo preferido, ainda com os lençóis bagunçados. Seu lugar preferido. Era tanto de você na minha visão, que depois de tantas horas sem te ter você me invadiu. Invadiu e estremeceu. Não veio antes, porque certamente não teria aguentado chegar em casa e olhar aquele objeto tão nosso, tão cheio de nós, sem ter você ali.